Por que devemos enfatizar princípios acima de modelos, métodos e estratégias? Fabrício Freitas

estrategiasA resposta é simples: os princípios são a base teológica que sustenta e dá sentido a tudo o que fazemos. Eles respondem às perguntas “por quê?”. Os métodos são os meios pelos quais os princípios são liberados na vida da igreja. Os princípios, por serem extraídos da Palavra de Deus, são imutáveis, estão disponíveis a todas as igrejas do mundo e em todas as eras, bastando que tenhamos a Bíblia em mãos e a interpretemos sob a luz do Espírito Santo. Eles são o início de tudo.

Os métodos existem em tal quantidade quanto são os contextos em que as igrejas estão inseridas ao longo da história, pois cada uma buscará sua própria maneira de colocar em prática o que está extraindo da Bíblia. Infelizmente, nossa inclinação ao pragmatismo muitas vezes nos leva a preferir fórmulas prontas a estudar as Escrituras e construir nossas próprias formas de aplicação das verdades encontradas ali. O fato é que geralmente gastamos muito mais tempo e energia nessa “pesquisa de mercado” e na experimentação de métodos prontos do que seria necessário para o exame e a prática dos princípios que saltam do Novo Testamento.

Além disso, é impossível que um determinado método, desenvolvido por uma igreja para um cenário e um tempo específicos, seja adequado para todos os contextos. Ao olharmos o Brasil, com suas dimensões continentais e tamanha diversidade social, econômica, cultural e religiosa, como pensar em uma estratégia única que seja padrão para todo o país? Impossível. Nas próprias igrejas da nossa Convenção Batista Brasileira, embora mantenhamos uma identidade doutrinária, já conseguimos visualizar diversos modelos de ser igreja! Preservamos nossos princípios, que conferem nosso sentido de unidade, mas cada igreja local é autônoma para decidir por si mesma como irá vivenciar esses princípios.

Precisamos confiar que o Espírito dirige as igrejas. Precisamos nos voltar mais uma vez à Palavra de Deus, olhar para tudo o que ocorreu nas igrejas no Novo Testamento e trazer para nossa vida as verdades que encontramos ali, sabendo que são imutáveis e podem ser aplicadas em qualquer realidade.

Por isso, enfatizamos que a visão de Igreja Multiplicadora não é um método, mas o resgate de princípios bíblicos que podem ser vivenciados em qualquer tempo e lugar. Uma igreja multiplicadora é uma comunidade de cristãos responsáveis, que se multiplicam, que entregaram a vida ao inteiro comando de Cristo e em cujo coração pulsa o desejo de levar outros a fazerem o mesmo.

No Manual de Crescimento de Igreja (1989), Ruan Carlos Miranda nos mostra que o crescimento da igreja é fruto de um movimento espiritual em que características bíblicas que foram esquecidas são vivenciadas pelos discípulos de Jesus. A primeira delas é a obediência. Se não crescermos em obediência jamais veremos a expansão do reino de Deus. A nossa obediência está totalmente relacionada ao senhorio de Cristo. É muito mais do que uma declaração verbal; é um estilo de vida de produção de frutos que glorificam a Deus. É sermos verdadeiramente embaixadores de Cristo, levando a mensagem de salvação. “Se não há obediência, não há crescimento”.   

O “ide” é algo que deve acontecer todos os dias à medida que vamos caminhando. Como afirma Christopher J. H. Wright, comentando o “fazei discípulos” de Mateus 28.19, É preciso reconhecer que a primeira palavra não é uma ordem em si, mas um particípio: Na medida em que vocês vão… É claro que, se as nações tivessem que ser discipuladas, os discípulos teriam que ir até elas; portanto, podemos detectar, com certeza, na primeira ordem de Deus a Abraão, um prenúncio da dinâmica que finalmente explodiria na força centrífuga missionária do ‘indo’ até aos confins da terra.

Atualmente, tem-se falado muito em métodos para crescimento de igreja, que dão ênfase na mudança de estrutura, na substituição de certos programas e ministérios e na reprodução em massa de estratégias ditas mais eficientes. Muitos desses modelos propõem uma simples cópia de uma experiência de sucesso, com a imitação de suas estruturas, programas, ministérios e doutrinas. No entanto, o que tem transformado vidas são os princípios bíblicos atendidos pelas estratégias que compõem esses modelos e não a mera repetição dos modelos em si.

Cremos firmemente que nada adianta mudar a estrutura de nossas igrejas se não houver primeiro uma mudança em nossa maneira de compreender e viver os princípios bíblicos. Fazer discípulos é um estilo de vida em que buscamos todos os dias e em todos os lugares aproveitar as oportunidades para tornar o nome de Cristo conhecido e trazer para perto todos que se disponham a segui-lo. E qual seria a base para a definição desses princípios? É o que veremos agora, quando examinaremos a fundamentação da visão de Igreja Multiplicadora.

Por Fabrício Freitas – Este texto faz parte do livro “De Volta aos Princípios” do Pastor Fabrício Freitas. O autor é Gerente Executivo de Evangelismo da Junta e Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Formado em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de Brasília, é Mestre em Teologia com ênfase Missiológica, pelo Southeastern Baptist Theological Seminary. É apaixonado pelo resgate histórico dos princípios e valores neotestamentários e autor do livro: “De volta aos Princípios” lançado pela editora Convicção e Missões Nacionais em 2015. Acessando este link http://migre.me/tt2qb  você pode adquirir este e outros materiais da visão de Igreja Multiplicadora.