OS ESTÁGIOS NA VIDA DISCIPULAR – Fabrício Freitas

Estagios na Vida Discipular“Em verdade, em verdade te digo que, quando eras mais moço, tu te cingias a ti mesmo e andavas por onde querias; quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres. Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: Segue-me”. João 21.18-19

Esse texto com que João nos presenteou no último capítulo de seu Evangelho é muito interessante, a começar do versículo cinco, em que Jesus chama seus discípulos de “filhos” e realiza a pesca maravilhosa, tempo de comunhão regado a peixe e pão. Em seguida, é a hora de Pedro ser desafiado a um estágio maior na vida discipular. Por três vezes Jesus pergunta se ele o ama. Podemos até imaginar que perguntar três vezes corresponde às três negações de Pedro a Jesus. Pedro declara abertamente o seu amor a Jesus.

Então, chegamos aos versos 18 e 19, já transcritos acima. Todos sabemos que quando Jesus declarava “em verdade, em verdade” ele estava para dizer algo muito importante. Aqui ele queria apresentar a Pedro o caminho que ele deveria percorrer como discípulo, ou seja, o caminho da infância para a maturidade.

O discipulado passa por vários estágios. Nesse texto o maior discipulador de todos os tempos apresenta dois deles: “moço” e “velho”. “Moço” é como Jesus se referiu a nós quando estamos no início da nossa vida cristã. Assim como fizemos um dia, Pedro na sua imaturidade andou conforme a própria vontade. Quando somos “moços”, vivemos como queremos e na maioria das vezes somos independentes de Deus.

Quando olhamos para o perfil de Pedro nos Evangelhos, notamos o quanto ele era impulsivo. Pedro facilmente demostrava a sua imaturidade pela impulsividade. Era estava sempre vivendo no limite. Manter o equilíbrio era um desafio. Por exemplo, em João 13, o discípulo se nega a deixar Jesus lavar os seus pés (v. 8). No versículo seguinte quase quer tomar um banho (v. 9). Certa vez, Pedro faz uma das declarações basilares da nossa fé: “Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo” (Mt 16.16 e 17). Mas, logo depois, quando Jesus abre o coração falando sobre sua morte e ressurreição (v. 21), Pedro o repreende. De pedra de esquina ele passa a ser pedra de tropeço. Assim era Pedro, e assim somos nós enquanto andamos como “moços” na fé, impulsivos.

Então, Jesus apresenta a Pedro outro nível na vida discipular: a maturidade. O verso 18 nos fala de uma característica do discípulo “velho”: “quando, porém, fores velho, estenderás as mãos, e outro te cingirá e te levará para onde não queres.” A marca da maturidade do discípulo é a renúncia da própria vontade. Somente alguém que vive o estágio de “velho” pode se entregar por completo ao Mestre. Por um tempo Pedro pode ter agido como criança, mas a maturidade o levaria a um caminho diferente, em que a sua vontade já não mais prevaleceria.

Isso também acontece conosco, quando crescemos através de encontros diários com o Senhor, da oração e meditação na Palavra. Já não somos mais nossos próprios guias, mas buscamos ser direcionados por Ele. Ele nos conduz para onde deseja. Somos inteiramente dependentes dEle. Essa maturidade não tem a ver com a idade cronológica ou o tempo de igreja de alguém. Sermos discípulos “velhos” é uma questão de passarmos tempo ao pés do Mestre, em experiências lado a lado por meio das quais nos tornamos mais parecidos com Ele. O Espírito Santo nos convence dos nosso erros e nos leva a viver um novo e vivo caminho.

Por fim, o verso 19 é uma revelação de como seria a morte de Pedro. “Disse isto para significar com que gênero de morte Pedro havia de glorificar a Deus. Depois de assim falar, acrescentou-lhe: Segue-me”. Sim, falar de morte é falar de maturidade. Voltando a Mateus 16, vemos que Jesus pela primeira vez compartilhou com os discípulos sobre sua morte e seu sacrifício. Jesus fala disso outras duas vezes, em Mateus 17.22-23 e 20.18, mas aquela era a primeira vez. Imagine o choque dos discípulos, principalmente pelo fato de não terem compreendido o verdadeiro propósito da vinda de Jesus. Eles tinham algumas noções preconcebidas sobre como deveria ser o Messias, e não conseguiam compreender como Ele morreria dessa maneira.

Diante disso, Jesus traz um esclarecimento muito importante aos seus discípulos e a nós hoje. Nos versos 24 a 27, Ele ensina a Pedro e aos demais o que significa ser um discípulo dEle:

 “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, tome a sua cruz e siga-me. Porquanto, quem quiser salvar a sua vida perdê-la-á; e quem perder a vida por minha causa achá-la-á. Pois que aproveitará o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma? Ou que dará o homem em troca da sua alma? Porque o Filho do Homem há de vir na glória de seu Pai, com os seus anjos, e, então, retribuirá a cada um conforme as suas obras.”

O caminho para a maturidade passa pela morte. Gosto muito de uma frase de Keith Phillips, que diz: “O chamado de Cristo para o Discípulo é um chamado para a morte de si mesmo, uma entrega absoluta a Deus.” É impossível pensarmos em uma vida discipular como estilo de vida se ainda não morremos. Aqui está um dos maiores desafios do cristianismo neste tempo: MORRER PARA VIVER, MORRER PARA FRUTIFICAR, MORRER PARA AMADURECER.

Esse é o caminho que todos somos chamados a trilhar: deixar a vida de “moço” e viver a vida de “velho”, dependentes do Senhor em tudo o que fizermos. Mas isso inevitavelmente passará pela morte, negação de si mesmo, da própria vontade. Só assim compreenderemos o que é sermos verdadeiramente discípulos dEle. Como disse a Pedro, Jesus hoje fala comigo e com você: “apascenta minhas ovelhas”. Em que estágio de vida você está? Moço ou velho? Pense sobre isso!

Por Fabrício Freitas – O autor é Gerente Executivo de Evangelismo da Junta e Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Formado em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de Brasília, é Mestre em Teologia com ênfase Missiológica, pelo Southeastern Baptist Theological Seminary. É apaixonado pelo resgate histórico dos princípios e valores neotestamentários e autor do livro: “De volta aos Princípios” lançado pela editora Convicção e Missões Nacionais em 2015. Acessando este link http://migre.me/tt2qb  você pode adquirir os materiais da visão de Igreja Multiplicadora.