Os batistas e a vivência do jeito bíblico de ser igreja – Fabrício Freitas

Ser igreja

Em décadas passadas, nós, batistas brasileiros, fomos despertados a esse retorno por meio de diversas publicações da Junta de Educação Religiosa e Publicações (JUERP). Duas delas foram escritas por Waylon B. Moore: Integração Segundo o Novo Testamento (1976) e Multiplicando Discípulos: O Método Neotestamentário para o Crescimento da Igreja (1983). Essas obras mostram a grande importância de um discipulado que envolva o cuidado efetivo um a um, isto é, um discipulado que acontece em meio a um relacionamento intencional entre um discípulo e outro, visando ao seu aperfeiçoamento para a multiplicação. Observe os seguintes trechos:

“Os líderes eclesiásticos, por toda parte, estão começando a perceber o vasto potencial que existe na abordagem feita a pequenos grupos, e especialmente no discipulado um a um, para conseguir a multiplicação efetiva.” (MOORE, 1983)

 “O discipulado no nível pessoal, um a um, é a maneira mais rápida que conheço para se desenvolver líderes espirituais que podem multiplicar outros discípulos.” (MOORE, 1983)

Esse cuidado um a um é o que a visão de Igreja Multiplicadora apresenta como Relacionamento Discipulador, que é o relacionamento intencional entre um discípulo multiplicador com outra pessoa visando torná-la outro discípulo multiplicador. É algo que acontece desde antes da conversão, pois a comunicação do evangelho deve se dar em meio a um relacionamento intencional que compreenda o convívio, o acolhimento, a intercessão, o zelo pela pessoa, o ensino e a solicitação de contas.6 Esses elementos do Relacionamento Discipulador são descritos no livro Igreja Multiplicadora: 5 Princípios para o Crescimento, dentro do princípio da evangelização discipuladora. Segundo propomos, os Pequenos Grupos Multiplicadores são o ambiente em que esse Relacionamento Discipulador é potencializado, gerando edificação mútua. Desde a década de 70, autores como Cecil G. Osborne se tornaram defensores dessa forma bíblica de ser igreja, como ensina em seu livro A Arte de Conhecer a Si Mesmo, também da JUERP:

“A ideia de grupo pequeno é uma das forças espirituais mais dinâmicas do século vinte… Sob vários nomes, pequenos grupos são formados com grande rapidez, em igrejas e denominações. Homens e mulheres estão redescobrindo que os serviços e atividades rotineiras da igreja local não trazem motivação suficiente para o crescimento espiritual significativo.” (OSBORNE, 1976)

Quando falaram dessa relação de cuidado efetivo um a um e mutualidade, esses e outros autores foram influenciados pelo Movimento dos Navegadores (The Navigators – www.navigators.org), que teve início na década de 1930 por Dawson Trotman. O seu objetivo é espalhar as Boas-Novas por meio de relacionamentos intencionais que capacitem os novos discípulos à multiplicação. O fundamento é a palavra de Paulo em 2ª Timóteo 2.2: “O que ouviste de mim, diante de muitas testemunhas, transmite a homens fiéis e aptos para também ensinarem a outros”.

Esse movimento tem como base o cuidado individual modelado por Barnabé para Paulo e por este para Timóteo, Tito e tantos outros. Enfatiza a importância de passarmos horas com novos crentes, individualmente e em pequenos grupos. Busca estudar a Bíblia, orar, encorajar, aconselhar e ensinar aqueles que estão nos primeiros passos da caminhada cristã. É a transmissão de verdade e vida por meio dos relacionamentos.

Muitas vezes encontramos em seus escritos a expressão vida na vida. Esse movimento influenciou muitos batistas americanos e chegou até nós no Brasil ainda na década de 70. Segundo mencionado na história dos Navegadores, Billy Graham convidou Dawson Trotman para ajudá-lo a capacitar discipuladores para atender às milhares de pessoas alcançadas pelas suas cruzadas evangelísticas. 8 Durante esse tempo, tornaram-se amigos próximos, a ponto de Billy Graham ser o pregador em seu funeral, em 1956, quando testemunhou:

“Creio que ele tocou mais vidas do que qualquer outra pessoa que já conheci. Nós hoje representamos milhares de pessoas tocadas por esse grande homem”. (EARLY, 2013)

Isso nos mostra que os batistas brasileiros têm se esforçado há pelo menos quatro décadas para trazer de volta o discipulado relacional e o cuidado recíproco entre os irmãos em pequenos grupos. A visão de Igreja Multiplicadora, e este livro em particular, não é uma formulação de última hora para acompanhar tendências. É um chamado para assumirmos de uma vez por todas aquilo que, como batistas brasileiros, temos praticado muito timidamente ao longo de todos esses anos. Esse sentimento de inconformismo com a falta de multiplicação de discípulos estava presente no Manual da Escola Bíblica (1986) escrito por nossa irmã Cathryn Smith:

“Quando uma igreja se satisfaz com os membros que tem e aqueles que espontaneamente se apresentam, não se interessando em alcançar as multidões, ela deixa de cumprir integralmente a sua missão como igreja.”

Chegou o momento de vivermos esse grande movimento como Denominação. Deus continua agindo em nosso meio para fazer isso acontecer, pois Ele é o mesmo “ontem, hoje e eternamente” (Hb 13.8). Diante de tudo isso, sinto-me encorajado, como batista brasileiro, a intensificar a multiplicação de discípulos onde estou. E você? Que tal fazermos isso juntos?

Por Fabrício Freitas – Este texto faz parte do livro “De Volta aos Princípios” do Pastor Fabrício Freitas. O autor é Gerente Executivo de Evangelismo da Junta e Missões Nacionais da Convenção Batista Brasileira. Formado em Teologia pela Faculdade Teológica Batista de Brasília, é Mestre em Teologia com ênfase Missiológica, pelo Southeastern Baptist Theological Seminary. É apaixonado pelo resgate histórico dos princípios e valores neotestamentários e autor do livro: “De volta aos Princípios” lançado pela editora Convicção e Missões Nacionais em 2015. Acessando este link http://migre.me/tt2qbvocê pode adquirir este e outros materiais da visão de Igreja Multiplicadora.