O verdadeiro jejum – João Marcos Barreto Soares

O verdadeiroJejumAo final do meu segundo dia aqui no Oriente Médio, vejo que tudo está sendo muito bom. Participei da formatura de uma turma do curso de língua de sinais do projeto Centro de Cultura para Surdos, o que é raro em um contexto islâmico. Quando terminou a programação, foi servida uma refeição para todas as 130 pessoas presentes. Ela aconteceu na hora em que o jejum do Ramadã deveria ser quebrado, pois a maior parte das pessoas ali era muçulmana.

Tivemos também uma proveitosa reunião com dois brasileiros que, através da representação diplomática de nosso país, tem auxiliado muito nosso trabalho aqui nesta parte do Oriente Médio, tanto que nos deram muita atenção e bastante tempo. Eles se mostraram entusiasmados com o trabalho que estamos fazendo com surdos e crianças.

No cair da tarde, nos encontramos com um de nossos missionários locais e fomos para outra cidade para nos reunir com uma família de ex-muçulmanos, convertidos ao Evangelho. Que experiência! Como é inspirador ouvir pessoas que, mesmo presas, não negam a Jesus. Ouvir de dois adolescentes que sofrem bullying por causa de Cristo e que não o negam é algo tremendo.

Esta família é humilde, de condições modestas, com renda de cerca de mil reais por mês. Para isso, homem e mulher trabalham. O marido trabalha de dia vendendo jornal na rua e à noite vai para um emprego. A esposa fabrica sabonetes. Aproveitamos o intervalo entre os turnos do trabalho do marido e jantamos com eles. Uma experiência inesquecível!

Eles são os únicos cristãos em sua comunidade e expressam sua fé sem receio, apesar dos riscos. Não querem se mudar, pois entendem que Deus os quer ali testemunhando de seu amor.

O que vimos foi uma família amorosa. A esposa testemunhou sobre isso. Apesar das dificuldades, são felizes. Ela declarou: “Nossa vida é linda”. Quando estávamos indo para a casa dessa família, pudemos ver que o Ramadã provoca estresse nas pessoas, para dizer o mínimo. Vimos uma briga na rua. As pessoas ficam muito nervosas. À medida que o dia passa, o nervosismo aumenta. As pessoas só querem ir para casa, comer e fumar.

Nas três horas finais do jejum, os taxistas só pegam passageiros que estejam indo para perto de suas casas. O trânsito fica insuportável, a tensão aumenta. Uma explosão de raiva pode acontecer por qualquer coisa. Fico pensando em como essas pessoas são tristes por pensar que precisam de sacrifícios para obter algo que nunca obterão, pois só a graça pode dar. Seu sacrifício só traz mais dor e sofrimento.

O verdadeiro jejum é comer a comida do Pai junto com Ele e saborear tanto esta intimidade ao ponto de se esquecer de que precisamos comer nossa comida.

Ore por estas pessoas, pelos convertidos, pelos missionários e por um avivamento que resulte em visão missionária e evangelística na igreja no Oriente Médio.

Por João Marcos Barreto Soares
diretor executivo JMM