MAIS DO QUE ACOMPANHAR NOVOS CONVERTIDOS – DIOGO CARVALHO

Bulls eye (archery)Fazer discípulos é muito mais do que acompanhar novos convertidos. A questão não é se eles precisam ou não de acompanhamento, pois é claro que precisam. A questão é se o nosso conceito de discipulado pode ou não se resumir a isso. Na verdade, por mais que reconheçamos a necessidade desse acompanhamento, o fato é que ele é raramente efetivado na prática. E isso tem tudo a ver com a nossa concepção de discipulado. Vamos meditar sobre isso um pouco.

A falta de acompanhamento tem sido uma preocupação muito presente nas avaliações de alguns projetos evangelísticos que realizamos. De fato, todos nós já devemos ter participado de iniciativas em que conseguimos muitos resultados em termos de “decisões por Cristo”, mas que se perderam com o tempo. Poucas fichas de decididos se materializaram em batismos meses depois. Essa é uma realidade frustrante para a maioria de nós. Tanto que alguns chegam a desistir de evangelização em massa pela falta de resultados permanentes. Outros, como eu, não conseguem radicalizar dessa forma, pois a evangelização “a toda criatura” continua sendo obrigatória (Mc 16.15), mas ainda assim tentaremos achar um meio de dizer que a culpa pela perda dos frutos não foi da evangelização em si, mas da falta de acompanhamento dos decididos.

A questão é: quem tem a responsabilidade de fazer esse acompanhamento, afinal? O semeador ou uma equipe de discipulado? Não é surpresa que nossa engrenagem trave justamente nesse ponto, pois é impossível responder a essa questão biblicamente, uma vez que ela pressupõe uma separação entre a evangelização e o discipulado.

Se a Grande Comissão é uma tarefa de todo cristão, e se ela compreende não apenas obter um convertido, mas também batizá-lo e ensiná-lo (Mt 28.19,20), então todo cristão é chamado a fazer todas essas ações. Todos nós devemos chamar novos discípulos, acolhê-los e aperfeiçoá-los. Só que, para que isso seja uma realidade em nossas igrejas, não basta fazer um apelo de momento sobre a necessidade do acompanhamento evangelístico visando compor um ministério com meia dúzia de membros dispostos a promovê-lo. Onde o discipulado não é alimentado por uma visão que o coloque no centro da Grande Comissão, ele torna-se apenas uma atividade optativa com a qual a maioria não quer se comprometer.

Muitos pastores se queixam da falta de quem se apresente na igreja para cuidar dos decididos. Mas, como poderia ser diferente se hoje o apresentamos como pouco mais do que uma tarefa administrativa da igreja? Infelizmente, muitas vezes o discipulado é entendido apenas como a atividade de reunir-se com uma equipe um dia depois de um evento evangelístico (um culto, uma cruzada, etc.), para fazer uma triagem de fichas de decididos e enviar alguns e-mails ou dar telefonemas.

Em contraponto à abordagem do bornal vazio, a que nos referimos no capítulo anterior, outros têm defendido um sentido da Grande Comissão voltado para o cuidado dos frutos colhidos para que não se percam. Vamos chamar essa abordagem de abordagem do cesto cheio. Aqui, fazer discípulos significaria prover nutrição espiritual aos novos crentes a fim de que se tornem maduros na fé e se reproduzam.

Um dos defensores dessa compreensão é Keith Phillips, autor do excelente livro A Formação de um Discípulo, no qual sustenta que “a comissão de Cristo para sua igreja não era ‘fazer convertidos’, mas sim ‘fazer discípulos’”.21 Seus argumentos são muito fortes e nos levam a uma profunda reflexão. Segundo ele, a nossa evangelização negligente com a formação discipular tem produzido “crianças espirituais mal cuidadas, o que resulta em cristãos fracos e superficiais”.

É claro que isso não pode ser generalizado, pois há muitos cristãos maduros e produtivos em nossas igrejas. Porém, a perspectiva de Keith Phillips não deixa de ser razoável. Ele demonstra matematicamente que o treinamento um a um de discípulos capazes de se reproduzir tem muito mais potencial multiplicador do que a simples adição de convertidos por meio das estratégias de evangelização em massa.

Ele apresenta um quadro comparativo entre o que se refere como “evangelização” e “discipulado” no qual faz a projeção de que em 32 anos um evangelista que ganhe uma pessoa por dia para Jesus obterá 11.680 frutos, enquanto um discipulador que treine um discípulo multiplicador por ano atingirá 4.294.967.296. A diferença é esmagadora. Ele sustenta com razão que “o discipulado é o único meio de produzir tanto a quantidade como a qualidade que Deus deseja dos cristãos”.

O problema é que às vezes nos esquivamos de recolher um fruto maduro passando-o para o cesto de outro. Só que essa pessoa com o cesto vazio nem sempre está lá. E aí colocamos a culpa pela perda do fruto que apodrece a poucos metros de nossos pés em um “fantasma”. As pessoas que queremos alcançar não podem ser passadas de mão em mão dessa forma: primeiro do evangelista, depois do acompanhador e, por último, do discipulador. A Grande Comissão não é uma linha de montagem. Cada cristão foi chamado para fazer discípulos, o processo todo, do início ao fim. O nosso chamado compreende não só semear o evangelho mas também colher os frutos bons para que não se percam.

Por Diogo Carvalho – Texto Extraído  do livro “Relacionamento Discipulador: uma teologia da vida discipular” do Pr. Diogo Carvalho publicado por Missões Nacionais. Falar em discipulado não é novidade. Mas compreender a perspectiva relacional como essência do discipulado é um retorno ao modelo discipulador usado por Jesus. Acessando este link http://migre.me/tt2Ze você pode adquirir este e outros materiais da visão de Igreja Multiplicadora.

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