DÚVIDA, FÉ E RAZÃO

duvida-fe-e-razaoComo encarar aquelas dúvidas que surgem quando começamos a estudar sobre as novas teorias científicas? Parece que quanto mais conhecemos a ciência e pensamos sobre ela à luz da nossa fé, mais dúvidas temos. Muitos escolhem não pensar nos assuntos polêmicos porque é mais fácil e assim não perdem a fé. Às vezes são até aconselhados a isso: “melhor você nem se meter com esse negócio de ciência porque você corre o risco de perder a fé”.

Não pensar e nem questionar a respeito, significa aceitar como verdade tudo o que os outros dizem. Pode ser aquele professor renomado, pode ser o seu amigo, pode ser o seu pastor. O que falarem pra você, você terá que acreditar sem pensar ou questionar. E se as informações parecerem conflitantes? Em quem acreditar? Pois é. Então parece que temos que pensar.

Em várias passagens da Bíblia somos exortados a buscar o conhecimento e a pensar. Só pra citar duas (falas de Jesus): “Vocês estão enganados porque não conhecem as Escrituras nem o poder de Deus!” (Mateus 22.29 NVI); “Vão aprender o que significa isto: ‘Desejo misericórdia, não sacrifícios’” (Mateus 9.13 NVI). Em ambas as ocasiões Jesus chamou a atenção porque as pessoas estavam entendendo errado alguma parte das Escrituras e precisavam estudar o assunto para aprender.

Levanto três questões que costumam aparecer quando temos dúvida

1) Será que posso questionar Deus a respeito de coisas que não entendo? Para responder a isso, vamos olhar a história de Tomé e de Habacuque. Tomé disse que só ia crer na ressurreição se tocasse nas mãos de Jesus. Prontamente o Senhor ofereceu suas mãos e lado para que fossem tocados. Habacuque questionou a Deus porque Ele deixaria os babilônios, povo ímpio, prevalecerem contra o povo escolhido. Ele foi até arrogante, quase bateu o pé pra Deus: “vou esperar com atenção o que Deus vai dizer e como vai responder à minha queixa” (Habacuque 2.1 NTLH). Deus respondeu pacientemente à sua dúvida e ele cresceu “Mesmo não florescendo a figueira, … ainda assim eu exultarei no Senhor e me alegrarei no Deus da minha salvação. (Habacuque 3.17-18). Só podemos concluir que Deus não nos desmerece por conta da dúvida, mas está pronto a nos ajudar a resolvê-la quando o buscamos. Quando tiver dúvidas não finja que ela não existe, ao invés disso, ore e peça a Deus ajuda: “Eu tenho fé! Ajude-me a ter mais fé ainda!” (Marcos 9.24 NTLH).

2) Ter dúvida é falta de fé? Vamos primeiro pensar se dúvida é incredulidade.  Incredulidade é uma recusa deliberada de crer e o incrédulo nem se dá ao luxo de pensar, rejeita de uma vez. Quem tem dúvida crê, mas questiona essa crença. Então, dúvida não é incredulidade ou falta de fé. Será que é indiferença? Só tem dúvida quem presta atenção na aula, diriam os professores. Se você tem dúvida quanto aos ensinamentos bíblicos, significa que você prestou atenção no que Deus falou e pensou sobre isso. Que bom! Na verdade, ter a dúvida não é o problema porque isso é humano. Ficar com a dúvida sim é o problema. William Craig, filósofo cristão, diz que a dúvida não resolvida é possibilidade de destruição da vida espiritual. A dúvida não é somente algo intelectual: “Se Satanás puder usar a dúvida para imobilizá-lo ou destruí-lo, ele o fará”.1 Procure sanar suas dúvidas, estudando, procurando saber mais e pensando. Busque ler a Bíblia e livros sobre o assunto (cristãos ou não) e converse com pessoas cristãs que estudam a respeito do assunto sobre o qual você tem dúvida. Resolver a dúvida pode não ser rápido. Tenha paciência.

3) A razão é inimiga da fé? Para responder a essa pergunta usarei o que argumentou William Craig no mesmo livro citado na pergunta 2. Primeiro, como saber que tenho fé? A nossa fé não é baseada em provas ou evidências, mas no testemunho do Espírito: “O Espírito de Deus se une com o nosso espírito para afirmar que somos filhos de Deus.” (Romanos 8.16 NTLH) e “ sobre vocês Cristo tem derramado o seu Espírito. Enquanto o seu Espírito estiver em vocês, não é preciso que ninguém os ensine. Pois o Espírito ensina a respeito de tudo, e os seus ensinamentos não são falsos, mas verdadeiros.” (1 João 2.27 NTLH). Aquela vozinha dentro de você que lhe diz que você é filho de Deus, essa é a sua fé, é o Espírito testemunhando com o seu espírito. Agarre-se a ela mesmo que seja fraquinha e tenha ela sempre como a primeira palavra. Onde fica a razão? Ela deve ser usada para entendermos e defendermos a nossa fé. A fé nos dá certeza sobre as questões básicas, mas não nos mostra os detalhes. Por exemplo, por fé sabemos que Deus é o criador, mas não temos como saber os detalhes da criação sem reflexão e estudo. Por outro lado, não há como saber que Deus é o criador por nosso próprio raciocínio, Ele teve que se revelar a nós. Essa é uma aceitação de fé e não podemos abrir mão dela. Quando aparece uma dúvida, a nossa fé deve controlar a situação. A razão não pode tomar o lugar do Espirito Santo, porque não conhecemos todos os fatos e podemos falhar no raciocínio. Ela deve servir à fé. Não teremos respostas a todas as perguntas, mas se a fé estiver tomando conta da situação pelo testemunho do Espirito Santo, então conseguiremos viver com confiança mesmo com perguntas sem respostas.

Por último, lembre-se da limitação do pensamento humano e se quisermos conhecer de verdade esse mundo, veja o que Paulo disse sobre o segredo de Deus: “Eu trabalho para que o coração deles se encha de coragem e eles sejam unidos em amor e assim fiquem completamente enriquecidos com a segurança que é dada pela verdadeira compreensão do segredo de Deus. Esse segredo é Cristo, o qual é a chave que abre todos os tesouros escondidos do conhecimento e da sabedoria que vêm de Deus.” (Colossenses 2. 2-3 NTLH). Nós que conhecemos a Cristo estamos na frente!

Por Sorele Batista Fiaux – Congrega na Igreja Batista Itacuruçá na cidade do Rio de Janeiro. Engenheira Química, mestre e doutora em Processos Químicos e Bioquímicos pela UFRJ. Docente e pesquisadora da Universidade Federal Fluminense, onde coordena o Laboratório de Tecnologia Microbiana.

  1. Craig, W. L. Apologética para questões difíceis da vida. Cap 1. Duvida. Tradução Heber Carlos de Campos. Ed. Vida Nova, São Paulo. 1ª edição. 1ª reimpressão. 2012
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