Educadores e psicólogos afirmam que a formação básica de uma criança acontece até os seis ou sete anos de idade e que os primeiros anos de vida de uma pessoa são decisivos para a gênese de sua futura personalidade. É nesse período que são delineadas as principais características psíquicas, o que se dá a partir da relação da criança com os pais, com as pessoas próximas, com os objetos e com o meio ambiente. Da mesma forma, o desenvolvimento espiritual na fé. São os primeiros momentos da caminhada cristã que determinarão se essa pessoa assumirá o seu papel no reino de Deus, exercendo seu sacerdócio universal, ou se será apenas um membro consumidor das atividades eclesiásticas.
Há grande probabilidade de que um novo convertido que vá aos cultos apenas buscando uma boa palavra de um bom pregador e que, depois disso, participe de uma classe de novos convertidos para aprender com um bom mestre, torne-se um membro consumidor. Quando tentamos ofertar aos novos membros somente o que há de melhor e mais bonito, estamos lhes favorecendo escolher uma vida de membro consumidor, o qual se acha no direito de ser servido com o melhor evento, a melhor escola bíblica, a melhor pregação, a melhor orquestra. Conduzir os ministérios com excelência deve ser um dos nossos alvos, mas não o único, tampouco o principal.
Uma igreja de membros consumidores costuma ter uma porta dos fundos muito larga. Na mesma proporção com que entram novas pessoas, saem muitas, algumas delas desiludidas com a fé e rancorosas com a instituição igreja. Os motivos são os mais diversos e, geralmente, pequenos: “na internet há pregações melhores”, “meu pastor não prega bem”, “os professores de EBD não são qualificados a ponto de me satisfazerem”, “o pastor nunca me visitou”, “a nova banda não toca as músicas de que gosto”, entre tantos outros.
Crentes consumidores só querem receber e os poucos que trabalham muitas vezes o fazem por motivações erradas, querendo atenção para si. O que vemos em alguns casos é uma falta absurda de crentes que sejam de fato obreiros do Senhor, verdadeiros discípulos com o desejo de multiplicar vida. O grande desafio para a igreja de nossos dias está em ir além de levar as pessoas ao batismo e a um engajamento nos eventos eclesiásticos. É preciso ajudar cada crente a se tornar um discípulo frutífero, por meio do entendimento claro do chamado primordial de cada um: fazer discípulos (Mateus 28.19). Embora a qualquer momento seja possível a igreja passar a ter a visão do seu chamado primordial, é muito mais fácil adquiri-la quando trabalhamos esse fundamento desde os primeiros passos da vida cristã.
Mas como fazer isso em uma comunidade que já está acomodada a uma visão de terceirização do crescimento?… onde cada membro crê que sua responsabilidade é só trazer as pessoas para os eventos da igreja para ali ouvirem uma “boa pregação”, “aceitarem a Jesus” e depois irem para uma “classe de batismo”? Como trabalhar com membros da igreja que não foram gerados por pais e mães espirituais, mas em bancos de cultos e cadeiras de classes?… que não experimentaram a bênção de serem amados, acolhidos e cuidados em uma caminhada um a um? Existe uma falha no DNA básico daqueles que foram gerados e continuaram a viver somente de eventos eclesiásticos: falta de paternidade espiritual. Como nos ensinou o Dr. Waylon Moore no seu livro Multiplicando discípulos:
Não é fácil ser um pai fazedor de discípulos. Há um preço pessoal a ser pago em amor e disciplina, ao se trabalhar com uma alma que viverá por toda a eternidade. Uma vez aceita essa tarefa das mãos de Cristo, um relacionamento de discipulado de pai para filho algumas vezes perdura por toda a vida, crescendo, até ser uma comunhão de colaboração madura.
Em geral, os membros de nossas igrejas sempre tiveram e ainda têm muitos mestres, mas nenhum “pai espiritual” a quem possam imitar (1Co 4.15). E em muitos casos, os mestres e pastores estão muito distantes para que possam ser imitados. Seu objetivo nem sempre é gerar filhos espirituais e cuidar bem deles, mas trazer pessoas para os eventos da igreja, pois foi assim que aprenderam os primeiros passos na fé.
Eles até trabalham em eventos pontuais, mas raramente se comprometeram em uma longa caminhada com outras pessoas, abrindo a vida e prontos a ouvir e cuidar de outros. Os autodidatas às vezes também querem se tornar mestres, mas sem se comprometer com vidas. Por não compreenderem o que é a vida de um discípulo servo que se dedica a pessoas, tornam-se consumidores da fé exigentes e quase sempre insatisfeitos.
Precisamos transformar nossa comunidade em uma família de discípulos conscientes de que cada membro é responsável por gerar filhos espirituais e cuidar de sua educação. Quando cada membro vive um estilo de vida discipular por meio de Relacionamentos Discipuladores (RDs), a igreja como um todo realmente assume o papel de acolher e “ensinar todas as coisas” do evangelho às pessoas que vão sendo salvas. Assim, a igreja de fato torna-se multiplicadora. E, para que tudo isso se torne uma realidade, faz-se necessário uma escola bíblica com uma visão discipular e com intencionalidade na formação de liderança.
Por Marcos Paulo Ferreira – Marcos Paulo Ferreira é pastor da área de ensino e líder de área de PGMs na Igreja Batista do Bacacheri em Curitiba (PR). Ele á o autor do livro ” Escola Bíblica Discipuladora – Formando Líderes Multiplicadores” – Quando pensamos em uma Igreja realmente Multiplicadora, não temos como deixar de imaginar uma Escola Bíblica pulsante, que bombeie para todo o Corpo de Cristo local o oxigênio da visão de multiplicação de discípulos e líderes. Acessando este link http://migre.me/tt30e você pode adquirir este e outros materiais da visão de Igreja Multiplicadora.