A Agenda de Jesus – Roosevelt Arantes

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Um das perguntas que mais me fazem quando falo sobre discipulado é: “Qual o material que você está usando?” É claro que aplicaremos alguns materiais que apoiarão a nossa caminhada discipular, mas a base fundamental é compreender que o que Jesus experimentou com os discípulos foi um Relacionamento Discipulador, não a aplicação de um algum material. Jesus investiu a maior parte do tempo de ministério no relacionamento com os discípulos. Quando observamos a caminhada de Jesus de forma geral, percebemos que a maior parte dos seus feitos e ensinos tiveram aplicações diretas na vida daqueles que foram chamados para andar junto com Ele. Não negamos que Jesus tenha investido tempo em seu ministério com as multidões, mas a maior parte de seu tempo foi investida intencionalmente na vida dos discípulos.

O milagre inaugural do ministério de Jesus nas Bodas de Caná da Galileia, por exemplo, traz muitos ensinamentos para nós em diversas áreas. Quando analisamos o texto com detalhes, percebemos que o milagre de Jesus teve uma implicação direta na vida de seus discípulos. “Com este, deu Jesus princípio a seus sinais em Caná da Galileia, manifestou a sua glória, e os seus discípulos creram nele” (Jo 2.11). Os atos de Jesus estavam repletos de intencionalidade para a formação de seus discípulos. No Evangelho de Marcos, 3.13 a 15, encontramos a descrição do RD de Jesus: “Depois Jesus subiu a um monte e chamou os que ele mesmo quis; e estes foram até ele. Então designou doze para que estivessem com ele, e os enviasse a pregar, e para que tivessem autoridade para expulsar demônio.” Jesus chamou seus discípulos para que estivessem com Ele. A primeira vocação – ou seja, o primeiro chamado – do discípulo é estar com Jesus. Fomos chamados primeiramente para estar com Ele. É a relação que temos com Jesus que nos habilita a representá-lo. É a relação que promovemos no discipulado que produzirá homens e mulheres testemunhas de Cristo em nossa nação.

Jesus discipulou enquanto caminhava. Seus discípulos foram formados não apenas numa classe (como podemos chamar os lugares fechados em que Jesus ensinou), mas também e principalmente em meio às circunstâncias do dia a dia. Foi por meio de uma vida de oração que Jesus transmitiu a importância de um ministério eficaz de oração, a ponto de seus discípulos pedirem que Ele os ensinasse a orar (Lc 11.1,2). Cada discipulador precisa transmitir a sua vida de oração aos seus discípulos. Cada encontro discipular precisa ser uma oportunidade de oração. Uma oportunidade de transmissão de ensinos sobre oração. Não deixe de investir tempo em oração junto com seu discípulo. Foi no banquete na casa de seu novo discípulo Levi que Jesus corrigiu os fariseus e mostrou que sua missão estava voltada para os doentes e pecadores, e não para os sãos e justos (Lc 5.27-32).

O relacionamento discipulador também é desenvolvido em momentos de refeições, quando, sentados à mesa, discípulo e discipulador compartilham as situações do cotidiano e a postura cristã para cada uma delas. A mesa de nossa casa tem sido um ambiente propício para a formação do caráter de nossos discípulos. Foi enquanto buscava um lugar deserto para descansar que Jesus transmitiu o princípio da compaixão, levando seus discípulos a atenderem a multidão faminta (Mc 6.30-44). Muitas vezes somente vendo a abnegação do discipulador, em abrir mão de um tempo de descanso, é que os discípulos entenderão o valor que eles têm e poderão dedicar-se a outros também. Jesus abriu mão do descanso para atender uma necessidade pontual da multidão. Em alguns casos, o discipulador precisará abrir mão de um descanso para socorrer os seus discípulos.

Aprendi com meu professor Dr. Wendal Mark Johnson que, para algumas pessoas, nós devemos colocar nossa disposição “no altar de nossa honra”. Devemos nos comprometer a atendê-las em qualquer situação. Essas pessoas são nossos discípulos. Foi durante uma travessia de 10 quilômetros de barco no lago da Galileia, saindo de Cafarnaum e indo para Gadara, que Jesus ensinou sobre fé aos seus discípulos que estavam com medo da tempestade (Lc 8.22-25). Cada momento juntos é oportuno para a transmissão de vida na vida. O discipulador deve aproveitar passeios, caminhadas, retiros da igreja, viagens missionárias e outras atividades para estar com seus discípulos e influenciá-los. Foi andando pelas searas que Jesus transmitiu muitos dos ensinamentos por meio das parábolas. O discipulador que se relaciona constantemente com seus discípulos transmite-lhes os valores bíblicos de forma natural. Isso não se resume a um encontro semanal. Quanto mais contato, mais valores são compartilhados.

Foi sentado próximo à caixa das ofertas que Jesus chamou seus discípulos e os advertiu quanto à vaidade (Mc 12.41-44). O discipulador precisa chamar os discípulos para perceberem algumas lições do reino de Deus. Cabe ao discipulador ter intencionalidade em ensinar aos seus discípulos os valores fundamentais do evangelho, compartilhando a Palavra de Deus e, se necessário, confrontando os valores equivocados da cultura vigente. Foi lavando os pés de seus discípulos que Jesus ensinou que, no reino de Deus, a liderança é conquistada pelo serviço. Ele afirmou: “Porque eu vos dei o exemplo, para que, como eu vos fiz, façais vós também” (Jo 13.15). O discipulador precisa ensinar o que é o evangelho, servindo.

O RD não se resume a um encontro semanal de uma hora com o discípulo. Não se resume a um estudo bíblico semanal. O RD significa a transmissão de vida na vida. Significa uma caminhada ao longo de uma vida. Se olharmos para o ministério discipular de Jesus, notaremos que Ele caminhou com seus discípulos por cerca de três anos. Sua caminhada discipular não estava restrita a algumas horas do dia, não! Os discípulos conviveram com Jesus 24 horas por dia. Isso significa que, nos três anos de ministério, Jesus investiu em torno de 26.280 horas com seus discípulos. Se acreditarmos que um encontro semanal de uma hora é suficiente para formar um discípulo, levaremos cerca de 500 anos para investir o mesmo tempo que Jesus investiu com os seus.

O relacionar-se no discipulado é a prática intencional de formar discípulos por meio de um convívio pessoal. Acredito que o discipulado seja vida na vida e deva ser desenvolvido através de encontros e contatos por meios tecnológicos. Quando Paulo não conseguia estar com seus discípulos, ele enviava cartas. Quando Jesus subiu ao céu, Ele nos deixou o Consolador. Devemos usar todos os recursos existentes para a transmissão dos valores do reino de Deus. O RD acontece quando o discípulo e o discipulador interagem durante os cultos da igreja; acontece por meio da interação nas reuniões de oração; acontece em encontros para assistir a algum filme no cinema; acontece numa caminhada num parque. Contudo, além de todos esses contatos intencionais durante a semana, temos que parar um dia para ter o encontro discipular propriamente dito. Como disciplina regular para o nosso contexto atual, tenho considerado um encontro semanal específico para o contato direto como satisfatório para o cumprimento dessa proposta. É nesse encontro que o discípulo compartilhará de sua vida e, juntos, discípulo e discipulador, refletirão à luz da Palavra de Deus sobre a formação do caráter de Cristo na vida do discípulo.

Por Roosevelt Arantes – Missionário dos Batista Brasileiros na Cidade de Resende (RJ) afrente da Igreja Batista Aliança, projeto de revitalização dentro da visão de Igreja Multiplicadora. Casado com Mylaine e pai de Alice. Este texto é parte do Livro “Aprofundando Raízes: Dinâmicas e elementos do Relacionamento Discipulador” – O livro apresenta de maneira detalhada os elementos do Relacionamento Discipulador, o acrostico RAÍZES (Relacionar, Acolher, Interceder, Zelar, Ensinar o Evangelho e a Prestação de Contas). Acessando este link http://migre.me/tx6Qp você pode conhecer mais cobre este precioso lançamento. É um livro indispensável para quem sabe que uma alma vale mais que o mundo inteiro.

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